quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Resoluções de fim de ano - parte 2

Antes de listar o resto das resoluções pra 2010, não consigo deixar de lembrar das resoluções que eu não cumpri nessa vida, tipo a de parar de comer carne, de 2005 pra 2006, que eu agüentei firme seis meses e o Fabrício estragou todo o esforço na Dona Deôla.

Nunca é demais ressaltar que o mais apropriado é investir em resoluções genéricas. Não que eu vá fazer isso, mas seria o mais fácil.

Lá vai:

- escrever a reportagem sobre Pontos de Cultura que eu tô devendo pra mim mesma faz uns três meses. Ainda mais agora que o Turino lançou o livro.

- terminar de ler Palhaços, que eu li o ano inteiro, em praticamente todos os ônibus que eu peguei e ainda não acabei. Falta pouco!



- estudar mais, comer mais coisas saudáveis, usar mais a minha bicicleta (esse é um puta exemplo de resolução genérica! Yes! Consegui!)


- parar de prometer pras pessoas coisas que eu sei que dificilmente vou conseguir cumprir.

- ficar mais perto dos meus amigos especiais pra resolver essa sensação de falta de amigos crônica, que nem é bem verdade.



- fazer a Cachorrada do Gato - evento prometido desde que eu trabalhava no CCSP e sempre postergado.

- voltar a jogar futebol.

- tentar de novo aprender acrobacias ou malabares ou os dois.


- terminar de aprender a editar vídeos.

- estudar italiano.

- reunir os documentos da cidadania italiana.


- não casar, não matar, não pegar berne de novo nunca mais.


- chorar menos.

- continuar me apaixonando com a maior facilidade do mundo por coisas e pessoas e idéias...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Blah + Resoluções de fim de ano parte 1

Não é das coisas mais confortáveis notar que a minha segurança - não tô falando de polícia, tô falando de segurança emocional - depende de fatores externos a mim e, em alguma medida, o meio e, sobretudo, os outros (não só no sentido de qualquer outro, todo mundo, o próximo, mas os outros "importantes", aqueles que te ajudam a dar sentido pra vida) influem muito mais na minha personalidade do que eu posso admitir sem ficar vermelha.

Talvez seja esse clima fim de ano, fim de um 2009 estranho, contraditório, incrível e horrível ao mesmo tempo. O fato é que acordei nos últimos dias me sentindo um pequeno pedaço de nada. Sabe aquela sensação que a gente tem a primeira vez que olha imagens da imensidão do universo e compara, assim mais ou menos, com o nosso próprio tamanho e fala "caralho, eu não faço diferença nenhuma?", pois.

E não, isso não é um draminha do tipo "por favor, alguém diga que eu sou importante", porque isso, aliás, nem me convenceria. É uma constatação que a minha cabeça retoma de tempos em tempos. E a pergunta seguinte é: "ok, mas por que você queria ser importante mesmo?". É, eu nem queria.

Resolução de ano novo - parte 1:

- conquistar a autonomia da minha segurança emocional (hahahahaha! Ficou engraçada essa mistura de palavras de auto-ajuda);
- parar de ligar pra importância que eu não tenho no mundo;
- tomar injeções semanais de crianças;
- admitir definitivamente que eu não nasci numa comunidade interessante, ativa, mobilizada, consciente e que agora eu tenho que me virar se quizer fazer parte de algo potente.
- nunca mais tosar o rabo do gato (ok, essa não tá no lugar muito apropriado da lista)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Hipocrisia I

Tenho a impressão de que essa série que resolvi chamar de Hipocrisia vai ter muitos posts...

Para começar em grande estilo "Apocalipse Motorizado":



O sujeito, andando pela cidade de São Paulo sozinho num carro imenso chamado Ford EcoSport, coloca naquele estepe bizarro que fica na parte de trás uma capinha meiga com os seguintes dizeres: "Salve a Natureza!"

Anotações IV

Vestibular continua sendo um porre como era da primeira vez que eu prestei, com o agravante de que, depois de 5 anos distante das matérias "exatas", me parece ainda mais sem sentido exigir que eu decore, por exemplo, a fórmula química do vinagre.




De todo modo, tirando todas as questões assustadoramente mal-formuladas e a ineficácia desse tipo de avaliação, o vestibular me foi útil porque me obrigou a ler alguns livros e peças bem bacanas, por exemplo, a peça A Vida de Galileu Galilei, do Brecht, que é fodaça. Assim sendo, retomo a série Anotações com duas idéias tiradas do livro Ação Cultural, do Teixeira Coelho, que faz parte da infindável coleção Primeiros Passos - Editora Brasiliense.



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1. A primeira é sobre o que é arte/ cultura bem baseado numa idéia de "pra que serve" e, sobretudo, revelando a apropriação de ambas pela lógica do capital e do consumo.

"(...) Criar uma obra de arte, por exemplo, freqüentemente será um ato de cultura. Como tal, necessária. Já mostrar uma obra de arte, ao contrário do que pretendem acreditar mudeus e galerias (...) está longe de ser necessário, longe de ser sempre e em si um fato de cultura. Mostrar obras de arte tem, outra vez, mais a ver com comércio ou exibicionismo do que com cultura. Quem tem a arte em si, diz Kraus, não precisa do motivo exterior que é a exposição. Quem não a tem, só verá mesmo o motivo exterior. Ao primeiro, o artista importuna; ao segundo, ele se prostitui".

Sim, muito exagerado, o próprio autor assume e afirma que os exageros servem, ao menos, "para dizer que apenas mostrar obras de arte pode não servir para nada". Em seguida, ele vai mais direto ao seu ponto.

"Há ainda o caso desse primo-irmão da publicidade, o design. (...) O design sempre foi aquilo que continua sendo: um substituto para a arte e a cultura, que não precisa ser pensado, apenas comprado e estacionado num canto da sala ou num pedaço de rua. Duchamps fez com seus ready-made não apenas uma crítica da arte, mas uma crítica prévia e dilacerante ao design. muita gente fez que não percebeu. A diferença entre o design e a arte é toda aquela que existe entre o ter e o ser."



Quer saber mais? Compre o livro ou empreste numa biblioteca - é curtinho e didático - até demais. Ou dá um pulo na Tok&Stok.

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2. O debate surrado sobre democratização da cultura e o que isso pode realmente significar - em termos pragmáticos e utópicos.

"(...) Uma das coisas que mais se ouvem nesse país é "democratização da cultura". A expressão, na maioria esmagadora das vezes, não tem qualquer sentido substantivo, é mera figura de retórica. Há duas coisas que não se sabe quando se recorre a elas: 1. o que vai ser democratizado; 2. o que é democratizar."

Isso é só uma introdução agressiva. Vamos à parte pragmática:

"No tipo de organização social que temos, a dinâmica cultural pode ser entendida e descrita nos termos do modelo de todo sistema de produção do qual o sistema de produção cultural é variante. Esse sistema apresenta as quatro clássicas fases: 1. a produção propriamente dita do bem cultural; 2. sua distribuição aos ponto onde pode vir a entrar em contato com seu eventual destinatário; 3. a troca do bem (em nosso regime sua troca por dinheiro), que o coloca em contato direto com seu virtual usuário (adquirente ou consumidor); 4. a fase última, a do consumo ou do efetivo desse bem."

E, enfim, a parte "utópica" - porque, por enquanto, sem lugar, ou, pelos menos, muito rara:

"(...) Não se trata de pregar a eliminação do artista profissional e do produto cultural feito por uns e oferecido ao uso ou consumo dos outros. Trata-se de criar o maior número possível de oportunidade para que o maior número possível de interessados conheça a parte essencial da aventura cultural que é a criação, distante anos-luz da experiência passiva da contemplação, da recepção. E fazê-lo não insistindo tanto no produto em si, na necessidade de se chegar a um produto final acabado e delimitado, como aquele que fazem os "profissionais", mas no processo de produção em si (...)"

(Os itálicos são do autor, os negritos, meus.)

Quer saber mais? Você pode ler outros livros do moço (ai, que bondade a minha, ele nasceu em 1944) da mesma coleção: O que é Industria Cultural e O que é Utopia.

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O melhor de tudo depois de ler um livro tão direto e que marca posição firmemente, é ler a nota final da editora:

"Caro leitor:
As opiniões expressas nesse liro dão as do autor, podem não ser as suas. Caso você ache que vale a pena escrever outro livro sobre o mesmo tema, nós estamos dispostos a estudar sua publicação com o mesmo título como "segunda visão"."

Não deve funcionar, mas é uma proposta legal. Fiquei pensando em o que a Brasiliense faria se recebesse uns 1000 manuscritos coerentes sobre o mesmo tema e logo pensei no título: "O que é Fluxo de Capitais - milésima visão".