segunda-feira, 3 de novembro de 2014

confiar

CONFIAR
FIAR COM
COSTURAR
TECER
HISTÓRIAS, DESEJOS, SONHOS, MUNDOS
PRA LÁ DO EU
DO MEU E DO SEU
LÁ, ALI
NO COMUM

DESLOCAR
DESAPROPRIAR
-SE
NA DIREÇÃO DO FORA
E EXPOR PRA COMPARTILHAR

ENTREGAR-SE, SUAVE, ÀS AGULHAS DO OUTRO
EM RISCO
A CRER QUE CADA FIO ENTRELAÇADO
SERÁ MANIPULADO COM A
LEALDADE
E A DOÇURA
DE QUEM AGE NUM SER INTEIRO,
TECIDO INTEIRO
NO ARTESANATO-ATO DE CONFIAR.

fora da disputa

pessoa não são terra
território,
latifúndio
em disputa

pessoas são mundos
em contato
ato
comum

CONTO-CANTO-ATO

O BRANCO
ÁGUA
UM PEDAÇO DE BOLO
UM PEDAÇO DE CÉU
E A OPORTUNIDADE

É OPORTUNO
- E DOÍDO -
VER SEM O VÉU

CÉREBRO DORMENTE
PEITO EM FLOR

VER SEM O VÉU
É ABRAÇAR A ESCUTA
          DO DENTRO

VOCÊ SEMPRE JÁ SABE
NÃO HÁ MAIS O QUE SABER
          SÓ FALTA O LEMBRAR
                                      E O ATO

TODO O TEMPO, O ATO

CONTAR DE NOVO
O CONTO QUE TE CONTA
SÓ QUE COM PEDAÇOS DE NUVEM
PASSANDO NUM ASSALTO

CONTAR DE NOVO E DE NOVO
O CONTO QUE TE CONTA
SÓ QUE COM BRECHAS NOVAS
NO MOVIMENTO DE PASSAR

CONTAR DE NOVO E DE NOVO E DE NOVO
O CONTO QUE TE CONTA
SÓ QUE COM FOLHAS FILHOTES
A BROTAR ARREPIOS

CONTAR DE NOVO E DE NOVO E DE NOVO E DE NOVO
O CONTO QUE NOS CONTA
SÓ QUE COM MUNDOS NOVOS
A CANTAR COMUNS

O CANTO
É O ATO
DO PÁSSARO.

PASSAR PELOS NÓS, NOS CANTOS, EM CONTATO

silêncio de ouvir geladeira

Enquanto você ronca
e os pernilongos reinam
eu cresço.

no verso ruim que eu deixei vir
na lágrima última que eu prendi e virou nuvem
eu alcanço minha brecha de céu
meu pouco de universo

nem mais uma lágrima
nem mais uma palavra
que não estejam para fundar.

silêncio de ouvir geladeira
e alegria de pássaro madrugueiro

nem mais um embrulho de estômago
nem mais um passo comum
que não estejam para clarear

silêncio de ouvir pensamento
e inaugurar transparências no tempo

*

Enquanto você mente
e os planos minguam
eu semeio

nas histórias futuras que imagino
nas viagens dentro e fora que pressinto
eu alcanço meus desejos descartados
meus pedais empoeirados

nem mais um corpo queimando por dentro
nem mais um vendaval no peito
que não estejam para delirar prazer

silêncio de escutar o eu
e, duvidando dele, caminhar para os outros, no plural.

nem mais uma pausa no sono
nem mais um frear das andanças
que não estejam para desenhar trilha

silêncio de escutar o caminho,
e, duvidando dele, arriscar outros, no plural.

silêncio de ser o risco, risco de ser o ato, ato de ser o silêncio, que precede o salto.